USP se levanta contra as invasões reacionárias?

JORNALISMO

Diogo Leme da Silva e Pedro Cid

12/23/20253 min read

Foto: Isadora Batista / Serviço de Comunicação Social da FFLCH USP

Na última quinta-feira (11), uma reunião aberta foi convocada pela diretoria da FFLCH para discutir as invasões aos campus da USP por parte de organizações da extrema-direita.

Funcionários, discentes e docentes estavam presentes e lotaram o auditório Milton Santos. Dentre as suas falas e os encaminhamentos da diretoria, alguns pontos a despeito da articulação política universitária que se erige nos saltaram os olhos.

A primeira e mais evidente questão é o sentimento geral dos alunos, expresso como um abandono do combate às invasões por parte da reitoria, obrigando-os a se organizarem autonomamente para enfrentar os invasores. Ao mesmo tempo, o cuidado para que a defesa estudantil não os conceda palanque político é um desafio complexo dado o contexto fértil aos objetivos dos invasores. As eleições de 2026 movimentam a política brasileira, que segue a lógica de crescimento do algoritmo virtual das redes. Não obstante, as invasões buscam a intimidação, a propaganda política direta, mas esses já não são mais o principal produto final buscado, pois não concedem aos movimentos sua pulverização exponencial que um artefato contemporâneo o pode: o corte instagramável. Ou seja, existe uma confluência entre o silêncio por parte da reitoria e os gritos exagerados dos influenciadores reacionários em solo uspiano, que podemos indicar como o crescimento massificado da extrema-direita. Esse cenário joga os alunos em um desamparo político, o qual pode perigosamente se traduzir em uma paralisia das mobilizações de oposição.

Por sua vez, os invasores são claramente sujeitos que aderem à tendência de projeção política em vista das eleições. A União Conservadora (UC), principal movimento responsável pelas invasões, manifesta-se coordenadamente na internet com cada vez mais evidência, desde as próprias invasões até em participações de vídeos do YouTube com uma alta retenção previamente calculável, como o do militante comunista Jones Manoel contra 20 conservadores, do canal “Spectrum”, dentre os quais cerca de três participantes eram filiados à organização. O “problema de comunicação”, muito discutido dentro da esquerda nos últimos anos - entretanto nunca com o devido aprofundamento, cedendo sempre à linguagem dominante - traduz-se na realidade atual como uma completa desorientação a respeito do crescimento desenfreado de figuras reacionárias. O nazi-fascismo, o racismo, o machismo e todo tipo de violência social passa a veicular com cada vez mais normalidade na gramática política massificada, o que possibilita, por exemplo, que certas figuras sejam aplaudidas por adentrarem o espaço universitário e rasgarem cartazes que denunciam o genocídio palestino em andamento.

Uma das falas discentes denunciou a lógica de segurança de instituições públicas como a Guarda Civil Municipal (GCM) ou a Polícia Militar (PM), que se omitem diante de tais situações, servindo como carro particular dos invasores para que fujam quando se sentirem ameaçados. Esse ponto suscita o afastamento da reitoria de ações diretas e a sua delegação de responsabilidade aos órgãos públicos, aparentando seu alinhamento, principalmente, com o governismo de Tarcísio de Freitas. A violência transpõe-se a um nível institucional. A omissão em relação às invasões traduz-se em um alinhamento político reacionário.

Por fim, sentimos que a reunião foi inconclusiva. As propostas encaminhadas pela diretoria apostam na capacidade institucional da universidade de expulsar os invasores a partir de suas infrações legais realizadas em solo universitário. Ao mesmo tempo, é de conhecimento de todos os estudantes o palanque político à direita que se tornou as invasões e a omissão da reitoria. Fazem-se ineficazes, portanto, proposições acerca da mesma institucionalidade que se manifesta em decadência quando não acompanha as exigências que os próprios alunos reclamam de acordo com suas condições materiais na USP, deixando-os ao léu da imprevisibilidade. A instituição não deve ser abandonada, mas levada ao seu limite para que, primeiro, o evidencie e, segundo, seja possível dele se emancipar. Nesse sentido, a manifestação prevista para o dia 02 de outubro é a proposta que melhor acumula em sua política as exigências populares manifestas.

É de se criticar também a oposição presente na reunião. Quando espaços de deliberação se tornam um meio para a repetição propagandísticas do movimento estudantil, qualquer germe revolucionário, tão buscado pelos partidos de esquerda, é esterilizado por uma fala que não ouve.

Acreditamos, contudo, que tais contradições apontadas devem ser compartilhadas com maior frequência e com um maior leque crítico. Para isso, a troca entre todos os tipos de organização e alunos desorganizados é valiosíssima para que se circule a crítica dentro do espaço universitário, único meio de se concretizar uma ação política verdadeiramente popular que dê frente às invasões reacionárias.